domingo, 7 de dezembro de 2008

Final de tarde para todas as tribos


Famílias inteiras, diversidade de tribos, pessoas de vários pontos da cidade, mistura de classes sociais e raças. Todos presentes para escutar e assistir ao encontro do músico solista Fred Menendez com o magnífico pôr-do-sol que pode ser visto da Ponta de Humaitá, em Monte Serrat, ao final das tardes de domingo.
O encontro, que só pode ser conferido aos domingos, a partir das 16h30, é o projeto Domingos Instrumentais, que acontece desde outubro e vai até fevereiro de 2009. O evento vem atraindo a população baiana e os turistas, que na cidade se encontram, e se tornando um ponto de encontro em Salvador. O projeto bem que poderia ser chamado de domingo da família ou domingo das tribos, pois a diversificação de estilos é muito vasta.
O agente de carga do Aeroporto Luiz Eduardo Magalhães e morador do bairro de Itapuã, Rodrigo Oliveira, 22, veio pela primeira vez ao show, após o convite de alguns amigos, e se surpreendeu com o que viu. “Eu só vejo essa mistura toda em época de carnaval. É negro, pardo, branco, gringo... é realmente incrível. Aqui tem de tudo um pouco”, afirma Oliveira, que estava acompanhado da namorada e por um grupo de amigos.
Todos se misturam em paz para dançar, cantar, curtir e se divertir. As visitas ao fim de tarde são para desfrutar de um espetáculo da natureza acompanhada pela música de qualidade de Menendez, que esbanja técnica e talento com o novo instrumento, a guiban – junção da guitarra baiana com o bandolim (veja box).
Para Vera Lúcia Ferreira, 56, professora aposentada e que reside em Paripe, o local é visto como muito propício para passear com a família. “Sempre que posso venho aqui para fazer um piquenique com meu marido e minha netinha. É um ambiente bastante agradável e seguro”.
Com show instrumental e repertório contendo execuções de sucessos do cancioneiro popular brasileiro, passagens pelo chorinho, frevo, bolero, pop, samba, pela MPB, bossa nova, hits internacionais e nacionais, como músicas de Dire Straits, Michael Jackson e Jota Quest, além de arranjos autorais. Acompanhado pelos instrumentistas Orlando Nascimento, no violão, Shafick Patriarca, na bateria e Marcos Boi no baixo, Menendez embala o público presente com muita energia e vibração.
Menendez viu na Ponta de Humaitá um ponto turístico não aproveitado e esquecido por muitas pessoas. Então conseguiu enxergar um pouco mais além e resolveu dar início aos ensaios abertos, inspirados nos festivais de ruas que acontecem na Itália, nos quais toca com frequência. Com o tempo o público foi crescendo e se tornando cada vez mais fiel. Daí em diante o ensaio se tornou no projeto, como hoje é conhecido. “As pessoas já acreditam no projeto e no nosso trabalho. O público é rotativo e aparece em um número cada vez maior. Tem ficado lotadão”, afirma Menendez.
O evento já contou com a participação de músicos como Armandinho e Arthur Aguiar. Mesmo sem apoio financeiro e patrocínio o músico se esforça para pagar o cachê dos “meninos”, como ele chama os instrumentistas que o acompanham, e ainda ajuda com doações de alimentos, pedidos por ele aos presentes durante o show, o Lar Irmã Maria Luiza.
Na diversidade de tribos é comum encontrar apreciadores de chorinho e bossa nova, além de grupos de capoeiristas, roqueiros, emos, hyppies e outros, e o mais importante: todos convivem em paz. Segundo o guitarrista de uma banda de rock local e morador do bairro do Uruguai, Elton Alencar, 25, “vir até aqui para apreciar esse cara (Fred) é mais do que um prazer. É uma satisfação” e faz uma ressalva “ele toca de tudo um pouco. É praticamente um Andréas Kisser (guitarrista do Sepultura) da Bahia. Eu e a galera da minha banda sempre estamos por aqui para aprender um pouco mais com ele”.
“Eu quase sempre estou na cidade nos finais de semana e gosto muito do Humaitá, mas não sabia desse projeto. O Fred é um ótimo músico e deveria ter uma maior divulgação por parte da mídia. Todos lembram de Armandinho e tal, mas ele (Fred) também merece sempre ser lembrado, pois é um músico de mãos cheias”, reclama Igor Barcelar, 26, técnico em informática e morador da cidade de Feira de Santana, que conclui “pelo que vi e fiquei sabendo hoje, aqui está sempre cheio e não é por causa da vista. Espero que as pessoas e as entidades olhem mais para os nossos artistas e os ajudem”.

O local: O nome Humaitá tem origem indígena e o seu significado é: Hu = negro, ma = agora, itá = pedra – a pedra agora é negra (Thompson, 1978, pág. 181).
A Ponta de Monte Serrat, mas conhecida por Ponta de Humaitá, tem à sua volta verdadeiros tesouros históricos, entre eles, estão a Igreja e o Mosteiro de Nossa Senhora de Monte Serrat, o Farol de Humaitá e Clube Náutico da Bahia, além do Forte homônimo do complexo religioso, onde foi instalado o Museu das Armas, conjunto colonial do século XVII, nos quais as visitações são gratuitas e abertas ao público. Fica localizada no extremo sul da Península de Itapagipe, de onde se pode apreciar algumas das 36 ilhas da Baía de Todos os Santos.

Guiban:Instrumento híbrido de bandolim semi-acústico de dez cordas e guitarra baiana de cinco cordas com floyd rose. O nome foi dado por Aroldo Macêdo e é uma homenagem a Pepeu Gomes. O instrumento foi idealizado e financiado pelo músico Fred Menendez e construído por Luthier Elifas Santana.




segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Enxergando o cotidiano: O que vejo quando ouço rádio?

Quando eu ligo o rádio, quase sempre, “vejo” notícias meio que perdidas nas ondas em que são transmitidas. Mesmo com notícias muito atuais, em tempo real e, às vezes, até conseguindo sair na frente de outras mídias, na maioria das vezes, são informações incompletas e, às vezes, até precipitadas, o que normalmente, leva o locutor do programa a está se desculpando com os ouvintes pelo erro ou imprecisão do que se foi falado.
Os problemas não são só com as notícias. Os programas musicais também enfrentam um grande dilema quando o assunto é o que tocar, pois – Toca-se o que está na moda, mesmo sem ser bom só para atingir o pico da audiência, ou o que realmente tem qualidade e merece um espaço? Vejo que grande parte das emissoras já desistiu do aspecto qualitativo, pois cada vez mais é comum encontrar rádios que tocam apenas musicas populares como axé, pagode e arrocha. Nada contra esses estilos, que independente de tudo tem público e grandes nomes como Ivete Sangalo, a banda Harmonia do Samba e outros, mas convenhamos que a boa e velha MPB, a Bossa Nova, além de programas para públicos alternativos como os de rock e reggae, ainda são muito difíceis de se encontrar. Então surge mais uma pergunta: será que só as músicas populares conseguem dar audiência?
Creio que seja necessário um estudo mais aprofundado, pesquisas, enquetes para saber o que as pessoas querem realmente e contratar e preparar ainda mais os profissionais que nessa área trabalham, para que as desculpas durante os programas jornalísticos e as informações imprecisas sejam extintas dessa mídia.
Também existem coisas boas como os programas e resenhas esportivos, no qual normalmente, trabalham profissionais conhecedores da área, alguns que já foram atletas de determinados esportes e outros profundos estudiosos, claro que não em todas emissoras. Nas rádios musicais, mesmo sendo poucas, também existem alguns programas que ainda cultuam as músicas de qualidade, não só de nosso país, mas também canções de artistas internacionais de grande sucesso e que tem um público fiel.
Voltando à pergunta sobre “o que vejo quando ouço rádio”, acho que a resposta que representaria de melhor forma seria: eu “vejo” uma onda, mas não como a da própria mídia, com direção e sentido, mas sim como uma do mar, onde todos nós sabemos que está ali, mas não sabemos onde irá chegar.